Muitos ainda não sabem, mas os dois murais expostos nos pilares da biblioteca do Colégio Murialdo, é de Alexandre Rocha, artista araranguaense.
A ideia nasceu de uma proposta nascida entre o artista e o então diretor, Pe. Elias de Souza, que desejava deixar registrada para o futuro, uma grandiosa obra de arte. Em comum acordo, resultou a temática numa reconstituição de alguns momentos históricos de Araranguá.
Nesta linha de construção da obra, o artista retrocedeu séculos em uma linha de tempo. No painel à esquerda do observador, inicia-se a trajetória numa formação tópica, optando-se por marcos históricos que incluem a presença humana e sua relação social e com a natureza; a exploração e o uso da terra, a discreta e rudimentar tecnologia, os muitos conflitos e disputas, e como exerceu sua mobilidade ao longo do tempo até atingir a sociedade atual.
A começar pelo Morro dos Conventos, lugar estratégico desde os primórdios, ladeado pela foz do rio, por onde transpunham emissários da corte, soldados, desbravadores, catequistas e viajantes de todo tipo e interesse, os caminhos se espraiam pela longa orla do mar, mas também pelo sertão entre matas, lagos, rios e montanhas.
E no caminho estava o indígena, que resistiu enquanto pôde à invasão de seu território. Séculos após, ainda com a presença indígena, embora reduzida, percebe-se a presença de negros trazidos para a mão-de-obra escrava. Sem apartar-se deste processo, aos poucos sinalizam sua presença os povoadores de origem açoriana, abrindo caminho e as bases para imigrantes continentais europeus de diversas etnias. E assim, aos poucos vai se formando a sociedade do sul catarinense.
Já no painel à direita, a sociedade ganha urbanidade, com as primeiras singelas construções em alvenaria, o que significava marcas do progresso no limiar do século XX, com renovação de esperanças de um futuro melhor. Esta expectativa faz chegar na vila o desbravador, o colono, que traz consigo a família, o trabalho, os apetrechos, a parelha de gado, a esperança de ser feliz.
Aos poucos, as cavalgaduras não seriam os únicos meios de transporte. A imensa região já se comunicava, então, com o restante do Estado e País também por meio fluvial, com consideráveis embarcações a flutuar no Rio Araranguá. E cortando os sertões ao norte, entre a densa floresta encontrava caminho também a ferrovia. Diversificava-se o trabalho, a produção era exportada para outros centros pelos barcos, pela locomotiva e pelos carretões de tração animal. Pessoas partiam, famílias chegavam, e a sociedade araranguaense tomava forma, delineava a sua cultura, o seu jeito de ser, viver e fazer, modelando padrões de identidade mais ou menos como os que conhecemos no tempo presente.
Os trabalhos nos painéis tiveram início em 1989 e foram concluídos somente em 2005, uma vez que o artista não pôde dedicar-se exclusivamente à obra. O maior desafio para a execução do trabalho foi, sem dúvida, a altura, pois os andaimes eram metálicos e sobre rodas, o que os fazia balançar.
E a história de Araranguá contada através da arte será o tema da palestra que Alexandre Rocha ministrará na próxima sexta-feira, 21 de março, aos estudantes do Ensino Fundamental e Médio.
O artista:
Alexandre Rocha é nascido em Araranguá-SC. Possui Bacharelado e Licenciatura em História, e especialização em PROEJA. É servidor do IFSC e realiza atividade artística de pintura e desenho. Os dois quadros de grandes dimensões da Biblioteca do Colégio Murialdo – Araranguá, com cerca de 35 metros quadrados, compõem uma parte importante de seu trabalho. Algumas pinturas do artista encontram-se na Casa da Cultura de Araranguá e na fachada da igreja matriz católica da cidade, que possui os Sete Sacramentos em moldura de alvenaria e tiveram origem de seus desenhos.