As psicólogas do Murialdo, Rosana Rossatto e Sandra Galiotto, destacam o papel dos pais na educação, principalmente, neste momento de isolamento social. Confira:
Vivemos um momento difícil, em poucos dias a vida de todos mudou drasticamente. Diante desta condição humana, fomos atingidos na nossa impotência que denuncia o quanto somos frágeis. Estamos confinados dentro de nossas casas por um período que pode ser bastante longo, com uma indeterminação do que pode acontecer. Diante desse contexto, algo praticamente inédito acontece: são os pais quem têm que, com exclusividade, cuidar das crianças e adolescentes! Isso exige uma reformulação do cotidiano das famílias que antes era organizado pelo “dentro” e “fora”, “casa” e “escola”. O momento pode ser oportuno para refletirmos sobre o ato de educar e seus desdobramentos em tempos de isolamento social.
A educação só ocorre de fato, se toda a comunidade escolar estiver envolvida nesse processo, visto que todos exercem um papel fundamental no desenvolvimento de habilidades emocionais e conhecimentos teóricos. Então, acredita-se que a educação é um encontro entre o professor, o aluno, os pais e a comunidade no espaço da escola, e que leva aquela velha máxima, cada um precisa fazer a sua parte para que esse encontro aconteça efetivamente.
Diante das reviravoltas que estão se colocando e da necessidade de isolamento social, esse encontro que era feito na escola, foi arrastado para a casa de cada um dos alunos, levando de carona toda a comunidade escolar. Nesta perspectiva, verifica-se a importância do papel dos pais como agentes de organização, estímulo e orientação dos filhos. Essa premissa equivale para ambas as formas, educação presencial e/ou digital. Uma tarefa que não é fácil, até porque não é a única com a qual os pais estão envolvidos no dia a dia. No entanto, parece que o momento atual faz um convite para que os pais reaprendam com seus filhos, aproximando-se deles e fortalecendo esse vínculo que é primordial para o desenvolvimento emocional e a construção de conhecimento.
A psicanalista Julieta Jerusalinsky muito bem sugere, ao invés de pensar tanto em como vamos ensinar às crianças conteúdos curriculares durante a pandemia, talvez seja preciso interrogar o que poderemos aprender juntos em um momento em que os adultos estão tão espantados quanto as crianças diante dos acontecimentos do mundo, tendo que refazer os projetos para um nebuloso futuro a fim de poder sustentar o valor de todos os pequenos atos no presente do cotidiano. Neste sentido, sugere-se que os pais possam dialogar com seus filhos sobre a atual situação.
É importante que a criança e o adolescente entendam o porquê da educação digital, pois esse momento de incertezas produz angústia em todos. Para tanto, por meio de um discurso claro, coerente e verdadeiro é imprescindível que a “normalidade” relacionada à rotina de estudos tenta ser mantida diante das incertezas que a impactam, entre outras coisas, as projeções sobre o retorno às aulas presenciais. A partir desse olhar, é possível que pais e filhos encontrem uma maneira única e especial de aprender uns com os outros e também com a escola.
Por fim, trata-se de um novo momento que não veio com uma cartilha, assim precisa ser criado e construído a partir do trabalho conjunto entre os alunos, os pais e a escola. A verdadeira escola aprendente não ensina apenas para os alunos, mas também para seus funcionários, pais, professores. Essa condição denuncia que, em tempos de pandemia, todos estamos em condição de aprendizes. O ato de educar vai além da transmissão de conteúdos curriculares, implica em comunicar o que importa na vida e, a partir da criação de uma nova experiência compartilhada, as famílias têm a oportunidade de consolidar essa tarefa.